Energia elétrica, diesel, mão de obra e manutenção de equipamentos sobem e fazem com que o agricultor recupere no máximo o que gastou para produzir
O produtor de arroz do Rio Grande do Sul não tem o que comemorar neste início de colheita. Os custos não param de aumentar e, para piorar, a concorrência externa diminui cada vez mais a competitividade do setor. A saída, para muitos agricultores, é diminuir a área cultivada na próxima temporada.
Prestes a participar da safra de arroz mais cara da história, o produtor Rogério Souza Silva está preocupado. Ele sabe que no final do ciclo gasta mais por causa da irrigação. Só que o último aumento, autorizado pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) para clientes de uma das principais distribuidoras do Rio Grande do Sul, foi de assustar.
“Nossa lavoura de arroz aqui do Rio Grande do Sul é irrigada. A grande maioria das lavouras precisa de bombeamento e de energia, que vai ser a diesel ou elétrica”, diz Silva.
Uma das principais vilãs da renda do produtor de arroz no Rio Grande do Sul é a conta de energia elétrica. Em sua propriedade, Silva percebeu aumento de 34% em janeiro, justamente na época em que a lavoura mais precisa de irrigação.
Pelas contas dele, a soma das faturas vai chegar a R$ 80 mil nesta temporada. Esse é só o valor gasto apenas para banhar a lavoura.
“Agora é o pico do gasto em energia, porque é o ápice da irrigação. É nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro”, afirma Silva.
A Federarroz (Federação das Associações de Arrozeiros do Estado do Rio Grande do Sul) colocou na ponta do lápis os principais aumentos que fizeram o agricultor gastar mais. Depois da energia elétrica (34% de aumento), vem o diesel, que subiu 20% nos últimos oito meses. A mão de obra também está mais cara (7,5%) e, por último, o custo com manutenção de equipamentos (de 10% a 15%).
Para os representantes do setor, isso tira a competitividade dos produtores do Rio Grande do Sul, que é hoje o segundo maior produtor mundial de arroz.
“Sejam eles os controlados pelo governo, energia elétrica, e até mesmo combustíveis, sejam eles os insumos, que não nos é facultada a importação ou a busca desses produtos fora do território do Brasil, ou seja, nós não temos o livre comércio. O livre comércio é somente para a entrada de arroz, não para nós buscarmos os nossos insumos”, diz Henrique Dornelles, presidente da Federarroz.
Isso acontece porque alguns insumos liberados em outros países do Mercosul não são permitidos no Brasil. “Se tu tivesse a opção de buscar fora, ou dos próprios países do Mercosul, poderia tranquilamente estar competindo com eles. O nosso problema não é aumentar o preço, é diminuir o nosso custo de produção”, afirma o produtor Luiz Carlos Machado.
“O custo para baixar passa pela mão do governo! Deveria nos liberar para comprar produtos fora do Brasil. O Mercosul é uma via de mão só. Quer dizer, pode entrar arroz aqui, mas por que eu não posso comprar os produtos lá?”, diz o rizicultor Silva.
Um estudo do economista Antônio da Luz, da Farsul (Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul), mostra que produtores brasileiros pagam, pelo menos, 80% mais caro por determinados insumos que os de outros países do Mercosul.
“Para eu cumprir todos os procedimentos, para eu conseguir importar, vou levar anos preenchendo papel e provavelmente eu não vou conseguir. Porque eu tenho vários procedimentos, colocados pelo próprio Ministério da Agricultura, para poder trazer agroquímicos, para poder trazer peças, por exemplo. Por que é fácil trazer arroz e difícil importar os insumos?”, pergunta o economista.
E, se o produtor percebe que o retorno não compensa o investimento como o esperado, a saída é diminuir área plantada. E o setor já orienta essa redução.
“O produtor vai precisar entrar para dentro do seu negócio. Eu acredito que ele vai precisar reduzir área não só pra adequar a demanda, mas também para sair daquelas áreas mais caras não só de arrendamentos, mas também aquelas que exigem mais energia”, avalia Dornelles.
“Isso faz repensar primeiro na diversificação. Hoje o arroz praticamente só cobre o custo de produção. Se ele continuar assim, a minha tendência é diminuir a lavoura. Com certeza não vou adquirir nada, porque não tem como comprar máquina, não tem como se endividar mais numa lavoura que sinaliza ser inviável hoje”, diz Silva.
“A lavoura vai cada vez diminuir mais dentro do Rio Grande do Sul. Eu acho que nós produzimos qualidade e quantidade comparáveis às de países de primeiro mundo. Nós temos o direito de produzir arroz no Brasil, com renda. O que não está acontecendo agora”, completa o produtor Machado.
Fonte: Canal Rural