Doença já foi um problema bem sério para o gado de leite e preocupa também os seres humanos - especialmente os que trabalham na lida com os animais.
Um assunto delicado: a brucelose, doença causada por bactéria. Ela já foi um problema bem sério para o gado de leite e preocupa também os seres humanos - especialmente os que trabalham na lida com os animais: e os casos com pessoas podem ser bem maiores do que imaginávamos.
As brucellas são bactérias que causam a brucelose. Existem várias espécies. Algumas com alto poder de contaminação. Caso da brucella abortus, que se hospeda principalmente em búfalos e bovinos.
Na vaca, a brucelose pode causar aborto do feto e retenção de placenta depois do parto. O touro pode ter uma inflamação nos testículos e ficar estéril. Para controlar essa doença, no Brasil, desde 2001, o criador de gado e de búfalo é obrigado a vacinar todas as fêmeas do rebanho entre três e oito meses de vida. Além de abater os animais que estão comprovadamente doentes.
O que nem todo mundo sabe é que a brucelose é uma zoonose, ou seja, ela passa dos animais para os seres humanos. Por exemplo: se eu tomar um leite cru ou comer uma carne mal cozida do animal contaminado, eu posso adoecer. Mas essa não é a principal forma de transmissão da brucelose. Quem mais sofre com a doença geralmente são as pessoas que trabalham na lida com o gado.
Marcelo de Oliveira sabe bem disso. Ele trabalhava na Casa de Agricultura de Paraibuna, em São Paulo, e teve que fazer uma longa peregrinação por médicos da região até encontrar um que perguntou: “'O que você faz?' Aí eu contei pra ele que eu fazia inseminação, fazia parto, que eu mexia com gado, fazia muito tempo, né? Aí ele falou... Vamos fazer uma sorologia? Aí eu falei: brucelose? Ele falou é!” marcelo sentia muita dor na perna e febre.
Gotículas de sangue, leite ou urina de animais contaminados já são suficientes para transmitir a bactéria da brucelose para o homem. Basta que ela encontre uma portinha de entrada: alguma lesão ou mesmo uma mucosa - boca, nariz, olho... Em se tratando de saúde humana, até a vacina - obrigatória pro rebanho - vira um complicador. Existem duas: tanto B19 - mais comum no brasil - como a RB51 são produzidas com bactérias vivas, capazes de infectar o homem.
O veterinário Geraldo Mancilha pegou a doença assim. "A gente começou a vacinar um plantel, e eu coloquei a seringa dentro da caixa de isopor num local adequado, só que a agulha ficou para cima, uma bezerra me empurrou, eu bati a mão na agulha... Muitos anos depois, eu comecei a sentir um cansaço e procurei ver o que aconteceu comigo, se foi por causa dessa vacina, aí fizemos os exames, deu positivo.", relembra ele.
Hoje em dia existe todo um protocolo de segurança para evitar acidentes como o do Geraldo. Só veterinários habilitados são autorizados a vacinar o rebanho.
O problema é que, na prática, muita gente sem habilitação vacina, sem nem saber direito do risco que está correndo... No hospital Emílio Ribas, em São Paulo, o médico infectologista Marcos Vinícius da Silva recebe todos os meses de dois a três pacientes com a doença.
"Ela é uma doença complexa porque pode ter várias manifestações clínicas, pode ir desde um quadro de fadiga, uma febre que aparece e desaparece, sudorese, perda de ânimo, peso, depois pode localizar, sistema nervoso central, articulações, coluna, acometimento pulmonar, aparecimento de ínguas... O tratamento é feito através de uma combinação de antibióticos. e o tempo também é problongado", diz o médico.
O Instituto Biológico de São Paulo - ligado à Secretaria de Agricultura do estado - é uma referência no estudo de brucelose. De lá, recentemente saíram duas notícias: uma boa e uma ruim. Vamos começar pela boa: os pesquisadores do instituto conseguiram desenvolver um teste molecular que não só detecta a Brucella em uma amostra de urina, como identifica a espécie da bactéria.
O Instituto Biológico já começou a conversar com o Instituto Adolpho Lutz, ligado à Secretaria de Saúde, com a intenção de transferir para eles essa tecnologia de diagnóstico molecular. A ideia é que mais gente, no futuro, tenha acesso a esse exame - hoje - indisponível.
Alerta contra queijos clandestinos
Agora senta aí para a notícia ruim: a pesquisadora e veterinária Simone Miyashiro - diretora de triagem animal do instituto - analisou cento e noventa e dois queijos clandestinos de Minas e São Paulo. Trinta e sete estavam contaminados com Brucella. Sete deles com estirpes de campo e trinta com B19, ou seja, a bactéria usada na fabricação da vacina das bezerras segue no leite do animal com potencial para contaminar humanos:
O centro de doenças de Atlanta nos Estados Unidos também anda emitindo alertas desse tipo. Lá, eles conseguiram comprovar que algumas pessoas se contaminaram ao ingerir leite cru de animal vacinado com RB51, a outra vacina disponível no mercado.
Apesar dos problemas para o ser humano, a pesquisadora reconhece que é importante continuar vacinando o rebanho. O jeito, então, segundo ela, é evitar o consumo de leite cru e seus derivados. E sempre usar equipamentos de proteção individual na lida com o gado.
Se você costuma fazer queijo de leite cru tem que aguardar o tempo certo de maturação do produto. Esse processo - quando bem feito - elimina a bactéria. O Ministério da Saúde afirmou que não vai comentar o assunto.
Fonte: Canal Rural