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Cajueiro-anão resiste à estiagem e mantém alta produção no Semiárido nordestino
Resistente ao ataque de doenças e pragas, como a mosca-branca, o cajueiro-anão comprovou a sua viabilidade durante a seca que destruiu várias culturas no Nordeste entre 2012 e 2017
Publicado em 16/09/2025 15:21
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O cajueiro-anão, tecnologia desenvolvida pela Embrapa Agroindústria Tropical (CE), vem se consolidando como uma opção de renda sustentável para agricultores familiares do Semiárido nordestino, mesmo em épocas de estiagem severa. Resistente à escassez hídrica e ao ataque de doenças e pragas, como a mosca-branca, ele comprovou a sua viabilidade durante a seca que destruiu várias culturas no Nordeste entre 2012 e 2017. É capaz de produzir mais de 1.000 quilos de castanha por hectare - mais de duas vezes a média nacional - desde que seguidas as práticas de manejo recomendadas para cada etapa do cultivo. Além de ganhos econômicos, a inovação contribui para a permanência das famílias no campo.

A rusticidade da espécie vem de mecanismos fisiológicos únicos. Diferente de muitas plantas, cujas folhas caem para evitar perda de água, o cajueiro mantém a folhagem verde, reduzindo a transpiração sem interromper a fotossíntese, processo essencial para a sua sobrevivência. Também consegue melhorar a absorção de água do solo e até aproveitar a umidade da madrugada, típica das noites mais amenas do sertão.

“Poucas espécies frutíferas conseguem produzir em pleno período seco. O auge da produção do caju acontece no segundo semestre, justamente quando a maioria das plantas da Caatinga está em baixa atividade metabólica devido à falta de chuvas. É nesse momento que o caju se torna fonte estratégica de renda. Espécies como o juazeiro, por exemplo, têm raízes muito mais profundas, que lhes garante outra estratégia de sobrevivência. Já o cajueiro, mesmo com raízes menos profundas, consegue produzir no período seco. É realmente incrível”, ressalta o pesquisador Marlos Bezerra, da Embrapa Agroindústria Tropical.

Essas características presentes nos clones de cajueiro-anão, associadas a outras vantagens, fizeram muitos produtores migrar para a atividade na última grande seca que dizimou outras culturas, inclusive antigos plantios de cajueiros gigantes. Com o cultivo desses clones, associado aos práticas adequadas de manejo da cultura, é possível obter, no mínimo, o dobro da produtividade registrada nos tradicionais cultivos de cajueiro gigante.  Os produtores ainda contam com a vantagem de aproveitar o pedúnculo, o que torna a atividade mais atraente economicamente.

 

Para Bezerra, além da sustentabilidade econômica, o cajueiro-anão oferece uma opção de cultura amigável ao fortalecimento da biodiversidade local, principalmente quando cultivado em sistemas agroecológicos ou integrados, como a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF). Os pomares atraem abelhas, retêm umidade no entorno e favorecem a presença de pequenos animais. 

Melhoramento genético
O caju é uma cultura típica do Nordeste, com praticamente 100% da produção de castanhas concentrada nos estados do Ceará, maior produtor, Rio Grande do Norte e Piauí. Embora a amêndoa retirada da castanha seja o principal produto comercial do agronegócio do caju, é possível gerar renda também com a venda do pedúnculo como caju de mesa, para consumo in natura, ou para aproveitamento na fabricação de sucos, doces, cajuína e outros derivados. 

Para fortalecer essa cadeia produtiva, o Programa de Melhoramento Genético da Embrapa já desenvolveu 13 clones para o mercado, sendo 11 de cajueiro-anão recomendados para a produção de castanha e pedúnculo, mais produtivos, resistentes a doenças e adaptados às condições de clima e solo do Semiárido. O CCP 76, recomendado para cultivo no Ceará, Piauí, Rio Grande do Norte e áreas semelhantes, é o clone mais plantado no Nordeste. Devido ao sabor agradável e qualidade do pedúnculo, é o preferido para a produção de caju de mesa, com uma produtividade de 9.600 quilos de pedúnculo por hectare. Também apresenta alto desempenho na produção de castanhas, com 1.200 quilos do produto por hectare. 

Alguns desses materiais genéticos foram selecionados em regiões extremamente secas do Semiárido e, além de alta produtividade, suportam bem solos arenosos e com alumínio. Entre esses clones se destacam o BRS 226, com uma produtividade de 1.200 quilos de castanhas por hectare, e o Embrapa 51, que pode chegar a alcançar 1.650 quilos por hectare, em condições ideais de manejo. Esse desempenho é mais que o dobro da produtividade média nacional, estimada em 358 quilos de castanhas por hectare, conforme Levantamento Sistemático da Produção do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), em 2024. Esses materiais tiveram sua resistência comprovada durante a grande seca da última década e essa estabilidade é estratégica para a agricultura no Semiárido.

O pesquisador Gustavo Saavedra, chefe-geral da Embrapa Agroindústria Tropical, explica que essas características são essenciais para garantir a continuidade da cultura e segurança para os produtores. Quem planta os clones da Embrapa sabe que vai colher, com ou sem chuvas. Enquanto outras frutíferas necessitam de altas quantidades de água, o cajueiro consegue produzir com uma precipitação anual entre 600 e 800 milímetros. Em anos de elevados déficits hídricos são esses materiais genéticos que se mantêm produtivos no pomar.

“No contexto das mudanças climáticas, a tendência é que algumas regiões tenham maior redução de chuvas e, nessas condições, o cajueiro se sobressai como uma planta resiliente e bem adaptada. Pensando no Nordeste, em especial no Semiárido, desenvolvemos clones para a produção em sistema de sequeiro, com alta performance produtiva e que, bem manejados, podem superar os parâmetros de produção definidos pela pesquisa”, pontua Saavedra.

O especialista acrescenta, ainda, que em localidades onde outras alternativas agrícolas são inviáveis, o cajueiro proporciona renda e prosperidade e pode contribuir para o desenvolvimento de uma classe média rural. 

Fonte:

 Embrapa

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