Confira como a guerra comercial EUA vs. China, as condições climáticas e o cenário de mercado vão afetar o cultivo da oleaginosa
A poucos dias do início da implantação da safra 2019/2020 de soja, as preocupações dos produtores são as mesmas de temporadas passadas, mas as condições são diferentes. Tabelamento do frete, guerra comercial e o fim do El Niño podem mudar o cenário nesta temporada.
Em Mato Grosso, maior produtor de soja do país, os agricultores estão com suas atenções divididas. Ao mesmo tempo em que se preparam para dar início ao plantio após 15 de setembro, quando termina o período de vazio sanitário, mantêm os olhos voltados às notícias internacionais.
“A guerra comercial entre China e Estados Unidos tem nos deixado em alerta. Em compensação, a quebra na safra americana pode ajudar o produtor de Mato Grosso, que sempre produz muito”, diz o presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), Antônio Galvan. Ele tem razão: na safra 2018/2019, o estado produziu 32,4 milhões de toneladas da oleaginosa, quase 30% do total do país.
Clima
Com o fim do El Niño, a apreensão em relação ao clima também existe, mas o otimismo é maior. “Depois da safra 2015/2016, não tivemos mais quebras significativas”, lembra Galvan. A meteorologista da Somar Desirée Brandt confirma que as condições devem ser favoráveis, mas o plantio deve acontecer mais tarde.
“Ao longo da safra, o clima deve realmente contribuir, mas o início vai ser complicado. A regularização das chuvas no Centro-Oeste vai chegar mais tarde. Pode haver tensão na hora da implantação da safra”, diz a meteorologista.
Já no Paraná, as condições climáticas neste início de safra são mais favoráveis. O estado voltou a receber chuva e os produtores já vão dar início ao plantio a partir do dia 10 de setembro. Em contrapartida, os custos subiram. De acordo com dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq-USP), os fertilizantes tiveram alta de 38% por conta da alta do dólar. Para compensar esses valores gastos a mais, os produtores buscam boas oportunidades no mercado futuro para travar preços.
“Mesmo com a demanda, está complicado travar preços no mercado futuro. Não tem havido bons picos de preço”, afirma Márcio Bonesi, presidente da Aprosoja Paraná.
No entanto, há razões para o agricultor não sentir esses picos, de acordo com o analista de mercado Jonas Pizzato, da INTL FCStone. “A soja no mercado físico está mais valorizada que a soja futura por causa dos prêmios e do frete, e isso causa um bloqueio no produtor, ele fica com essa impressão. Mas é importante ver que o preço de Chicago e dólar estão atrativos”, diz.
Após o plantio, o produtor ainda deve ficar de olho no mercado, já que, segundo o analista, alguns fatores podem provocar picos nos preços. “Se a guerra comercial entre EUA e China continuar acirrada, certamente a China virá buscar mais soja no Brasil. Além disso, uma possível quebra na safra norte-americana também pode provocar picos de preço em Chicago. Essas oportunidades devem ser observadas pelo produtor”, afirma Pizzato.
Fonte: Canal Rural