Ideia é iniciar semeadura já no dia 15 de setembro, mas previsão aponta chuvas só a partir de 18 de outubro. Embrapa destaca riscos dessa antecipação!
Muito já se falou sobre o plantio no seco para garantir a janela ideal para outra cultura na segunda safra. A própria Embrapa não recomenda a prática que, na maioria das vezes, só traz prejuízos. Ainda assim, todos os anos surgem novos relatos de apostas como esta e, o resultado sempre é o pior do que se imaginava. Em Nova Mutum (MT), por exemplo, não há previsão de nenhuma chuva até o dia 18 de outubro, mas produtores já querem iniciar a semeadura no dia 15 de setembro para garantir o algodão.
O plantio de soja da temporada 2019/2020 deve começar logo após o fim do vazio sanitário em Nova Mutum, no médio-norte do Mato Grosso. Por lá, a ideia é não perder a janela ideal para a semeadura do algodão, afirma o engenheiro agrônomo da Jatobá Planejamento e Consultoria Agronômica, Fernando Gazola, em entrevista para a Agência Safras.
“Os grandes produtores iniciam a partir do dia 15, mesmo sem chuvas, pois precisam liberar a área para o plantio de algodão na segunda-safra”, diz.
Gazola conta que, atualmente, o tempo está bastante seco na região, previsão confirmada por dados da Somar Meteorologia. Por lá, não cai uma gota d’água desde o dia 5 de julho.
E, os mapas mostram que precipitações só chegarão no dia 18 de outubro por lá (os mapas podem mudar, a última atualização foi em 5 de setembro), muito tempo sem água no solo para viabilizar o plantio. “Alguns chegam a perder até 10 mil hectares de soja para garantir o plantio da fibra”, afirma Gazola.
Mas será que vale arriscar tanto? Veja o que diz a Embrapa
Com a falta de chuvas e reduzida umidade no solo, só os agricultores mais ousados arriscam colocar a sementes na terra seca. Para o pesquisador da Embrapa, José Salvador, especialista no assunto, esta estratégia além de errada pode trazer um prejuízo de pelo menos 50% na produtividade, sem falar na possibilidade do replantio.
Nem mesmo o plantio com poucas chuvas é recomendado. Segundo o pesquisador a capacidade de armazenamento de água do solo depende de vários fatores relacionados à gênese do próprio solo (teor de argila, mineralogia, etc.) e às estratégias de manejo adotadas no talhão (sistema plantio direto, aporte de matéria orgânica, controle da compactação, etc.). Assim como, o balanço hídrico do sistema de produção é fortemente influenciado pelas condições climáticas.
“Neste sentido, considerando que alguns estados estão passando por um período prolongado de estiagem, desde meados de agosto, associado a temperaturas relativamente elevadas, na grande maioria dos solos a reserva hídrica encontra-se bastante reduzida”, explica.
Além do volume de água no solo estar baixo e as previsões de chuvas serem inferiores ao ideal, a meteorologia ainda aponta que as precipitações regulares devem demorar um pouco mais, no começo de outubro.
“Sem água no solo e a previsão de um longo período sem chuvas, quem colocar a semente no solo estará brincando de roleta russa. Pois a semente não terá condição de germinar adequadamente e poderá até morrer”, afirma o pesquisador.
A recomendação é que o agricultor deve aguardar até que ocorra uma quantidade de chuvas suficiente para repor o volume de água do solo e, a partir desta segurança, iniciar a instalação das lavouras. Para efeito de raciocínio, imagina-se a reserva hídrica do solo como se fosse um tanque de combustível de um automóvel, ou seja, se estiver completa (tanque cheio) proporcionará autonomia por um longo período e, a partir de pequenas reposições com chuvas sequenciais este volume será recomposto a níveis satisfatórios.
“Por outro lado, se o reservatório de água do solo estiver quase vazio e, caso ocorra uma chuva de reduzido volume, o suprimento hídrico para a lavoura será sustentado por poucos dias, e rapidamente ocorrerão perdas ou colapso das plantas”, conta.
Elucidando as necessidades fisiológicas da soja, Salvador Foloni ressalta a importância da água no processo de germinação e estabelecimento da lavoura. Quando a semente vai para o solo, o primeiro estágio da germinação é chamado de embebição, ou seja, a semente absorve passivamente a água disponível no seu entorno para dar início à formação da plântula.
“No caso do plantio no pó, se não houver chuva nos primeiros dias após a operação de semeadura, a semente não terá embebição adequada, e provavelmente haverá má formação ou morte da plântula”, ressalta. “Além disso, em períodos de estiagem no decorrer do verão há expressiva elevação da temperatura do solo, mesmo em áreas mantidas com palhada no sistema plantio direto, e este fator causa forte estresse nas sementes e plântulas.”
Se mesmo com o solo seco, a semente conseguir gerar uma planta, ela terá alta probabilidade de permanecer subdesenvolvida durante todo o ciclo, o que os agricultores comumente chamam de “planta dominada”. Existe uma junção de fatores que levam ao fracasso, ou seja, quando se faz a semeadura com reserva hídrica do solo inadequada, utilizando sementes de baixo vigor, escolhendo cultivares de ciclo relativamente curto (precoces) para essas situações adversas, e sem ajustar as populações de plantas.
O estresse por falta de água causa prejuízos em todos os estádios da soja, contudo, há três períodos críticos da lavoura em que o problema é demasiadamente severo: germinação, florescimento e enchimento de grãos. É preciso considerar que quanto maior for a área foliar da cultura, maior será a perda de água por evapotranspiração. Ou seja, na fase entre o florescimento e final do enchimento de grãos, a soja chega a perder mais de 7 milímetros de água por dia.
“Se a planta enfrentar uma estiagem neste estágio, o impacto na produção será muito grande e os prejuízos podem chegar facilmente nos 50%, Ou seja uma lavoura com potencial de produzir 70 sacas por hectare, para a produzir 30 a 40 sacas apenas”, explica ele.
Fonte: Canal Rural