Sem área para produzir e garantir renda, eles já se organizam, mas ainda esperam respostas da Vale
A Federação dos Trabalhadores da Agricultura de Minas Gerais (Fetaemg) estima entre 350 e 400 o número de produtores rurais prejudicados pelo rompimento da barragem 1 da Mina do Feijão, pertencente à Vale, em Brumadinho. A estimativa leva em conta os atingidos no próprio município e aqueles que estão em outras localidades próximas ao Rio Paraopeba, por onde está passando a lama da mineração.
O Serviço Geológico do Brasil acredita a “água turva” deve atingir o município de São José da Varginha nesta quarta-feira (30/1). E como a velocidade dos rejeitos está menor que a da água em condições normais, não é possível prever quando chegarão à Usina Hidrelétrica de Retiro Baixo, entre os municípios de Curvelo e Pompeu. A foz fica em Felixlândia, a 200 quilômetros de Brumadinho.
O presidente da Fetaemg, Vilson Luiz da Silva, afirma que será feito um levantamento minucioso das perdas de produtores não apenas de Brumadinho, mas de toda a área atingida. A intenção é levantar os prejuízos nas plantações, na estrutura das propriedades e equipamentos, além do endividamento.
Vilson afirma ter relatos de outras localidades que já estão sofrendo os efeitos do desastre ambiental. "À medida que a lama avança, vamos avaliando. Estamos fazendo um levantamento amplo e minucioso dos prejuízos diretos e indiretos. São cerca de 350 a 400 produtores que podem ser prejudicados em Brumadinho e outros municípios”, diz.
O Ministério da Agricultura estima que, só em Brumadinho, cerca de 180 propriedades rurais tenham sido prejudicadas. Na região, há, principalmente, produtores de frutas e hortaliças. Mas também criadores de gado de leite, galinhas e porcos, de onde tiravam sua renda e seu sustento.
Na região do Parque da Cachoeira, zona rural do município e uma das mais atingidas, produtores de hortaliças não apenas perderam a parte das plantações soterrada. O que restou não pode ser irrigado porque ficou impossível captar água.Eles dependiam do Rio Paraopeba para viabilizar o cultivo.
No último domingo (27/1), o presidente da Fetaemg esteve na região, onde se reuniu com um grupo de cerca de 20 agricultores familiares. Esses produtores decidiram formar um comitê para, junto com os técnicos e advogados da entidade para contabilizar os prejuízos e cobrar a reparação dos danos.
Sete desses agricultores fazem parte de uma comissão de atingidos, que foi formada na segunda-feira (28/1), depois de uma reunião com representantes do Ministério Público, Defensoria Pública, líderes comunitários locais e do Movimento de Atingidos por Barragens (MAB).
O Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brumadinho está reunindo as informações sobre os produtores locais para levar à comissão de atingidos e à Fetaemg.
"Temos que resolver a situação mais emergencial primeiro, para depois ver o que será feito. Produtores perderam a casa e a renda. Tem produtores endividados e que perderam tudo", diz o presidente do Sindicato, Mauro Pinto de Souza.
Globo Rural entrou em contato com a mineradora e questionou a empresa sobre a situação dos produtores rurais de Brumadinho. Até o fechamento desta reportagem, não houve resposta.
Depois de cinco dias de operações de resgate em meio ao rastro de destruição deixado pela lama da barragem, a contagem oficial de mortos chegou a 84 e 276 desaparecidos.
Fonte: Revista Globo Rural