A pecuária é o setor mais afetado, com mortes de animais e grande parte da produção sendo descartada; confira a lista completa
A Agroconsult liberou nesta segunda, dia 28, um levantamento sobre os principais efeitos da greve dos caminhoneiros no agronegócio. Com um termômetro que vai de baixo a elevado, a consultoria detalha um pouco a realidade que os produtores têm enfrentado nestes nove dias de paralisações.
Nível de impacto: GRAVE
Segundo comunicado da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), a morte de animais em larga escala já é uma realidade.
As relações de troca de aves e suínos – que já estavam desfavoráveis aos produtores devido à quebra da produção de milho segunda safra e da safra na Argentina – tornam-se, nesse momento, um mero indicador ruim. O grande problema está na paralisação de mais de 167 plantas de abate e de processamento de carnes, cuja produção não pode ser escoada.
A recuperação do ciclo de produção pode demorar quase seis meses para os suínos e quase dois meses para as aves.
Agroconsult
Na bovinocultura, o início do inverno e o enfraquecimento das pastagens fará com que os bois gordos prontos para abate percam peso a pasto. Quando a operação dos frigoríficos voltar ao normal, o produtor estará fragilizado para negociar.
No leite, a captação está paralisada nas mais importantes bacias produtoras. Há muito leite sendo jogado fora ou sendo utilizado, inclusive, para “irrigar” plantações. A redução na ração fornecida às vacas já está ocorrendo.
Cana-de-açúcar
Nível de impacto: GRAVE
A região Centro-Sul está em pleno início de safra. As usinas moeram de 10% a 15% da cana esperada para a safra. Na segunda, dia 28, cerca de metade do setor está parado por falta de óleo diesel para abastecer as frentes de colheita de cana.
Escoar o etanol é outro problema. Os tanques das usinas já estão cheios e praticamente não há mais capacidade de estocagem.
O impacto na moagem de cana no curto prazo é grande, mas ainda é cedo para falar em redução da moagem para a safra como um todo. A estimativa atual para a temporada é que sejam processadas 570 milhões de toneladas, com viés de baixa.
O caixa das usinas fica comprometido pela forte redução das exportações e pela completa paralisação das vendas de etanol.
Não se pode descartar o risco de que as medidas anunciadas pelo governo para o diesel – controle de preços e redução de tributos – sejam estendidos também para a gasolina nas refinarias.
Agroconsult
Isso teria impacto direto no mercado de etanol, que nos últimos meses se manteve competitivo devido à política de preços livres para a gasolina.
Trigo
Nível de impacto: ELEVADO
As lavouras estão em pleno plantio. No Paraná, 52% da área foi plantada. Em algumas regiões a semeadura está bastante avançada. É o caso do oeste, onde 90% da área já foi implantada. No Rio Grande do Sul, o plantio ainda está começando.
A falta de combustível, essencial para o andamento do plantio, poderá levar a uma redução da área plantada no Rio Grande do Sul e em partes do Paraná.
Agroconsult
Café
Nível de impacto: ELEVADO
Poderá se tornar grave se a distribuição de óleo diesel não se normalizar nos próximos dias.
A colheita está prestes a iniciar em Minas Gerais, São Paulo, Paraná e Espírito Santo. O ano é de supersafra, sendo esperadas 58,4 milhões de sacas, e os cafezais estão bem carregados.
É preciso considerar que boa parte da colheita ainda é manual, mitigando o impacto da falta de combustível. Mas, o transporte de mão-de-obra e da produção já foram afetados.
Agroconsult
Já há atrasos na exportação de café.
Laranja
Nível de impacto: ELEVADO
Os pomares de Minas Gerais e de São Paulo estão em plena colheita. O processo ainda é manual, mas a dificuldade de transportar a mão-de-obra até os pomares e a produção até as indústrias começa a reduzir o andamento do trabalho.
As exportações de suco de laranja também já começam a ser afetadas.
Soja
Nível de impacto: MODERADO
Pode ser tornar grave caso as paralisações continuem. A situação poderia ser pior se a colheita ainda estivesse em andamento e as máquinas ficassem inutilizáveis por falta de óleo diesel.
O principal efeito dos bloqueios, segundo a Agroconsult, é que as cargas não conseguem chegar aos portos. As exportações foram temporariamente asseguradas pela soja estocada nos portos. A partir de agora a situação começa a complicar. Cerca de 400 mil toneladas devem deixar de ser embarcadas a cada dia que a greve continuar. Mesmo que as rodovias sejam desbloqueadas, levará algum tempo para normalizar o escoamento.
Antes da greve, projeções da empresa indicavam que o volume de embarques em junho e julho deveria ser muito próximos do recorde para esses meses.
Se parte das exportações tiver de ser postergada, aumentará a competição com o milho nos canais logísticos de agosto em diante.
Agroconsult
Segundo a consultoria, novos negócios também não estão sendo feitos. Tanto compradores quanto vendedores estão esperando os desdobramentos da greve para voltar ao mercado.
Milho
Nível de impacto para 1ª safra: BAIXO
Segundo o 17º Acompanhamento de Safra da Agroconsult, 95% da produção do ciclo já foi colhida e armazenada. Resta metade da área na Bahia e no Maranhão, onde os produtores mantêm as lavouras no campo devido às limitações de estocagem. O período seco nessa região permite que o grão fique no campo por mais tempo sem maiores perdas.
Nível de impacto para 2ª safra: MODERADO
Se a situação persistir por mais tempo, a ponto de comprometer o avanço da colheita e o escoamento da produção, o impacto tende a crescer. "Projetamos que até o fim da primeira quinzena de junho, de 2 milhões a 2,5 milhões de toneladas devam ser colhidas no Mato Grosso", estima.
A colheita vai demorar um pouco mais para começar nos demais estados produtores. Neles, os efeitos da greve sobre o milho safrinha ainda são pequenos. Quase não há trabalho de campo nesse período da safra.
É preciso considerar uma queda na demanda doméstica de milho causada pela morte de aves e suínos que não receberam ração durante a greve.
Agroconsult
Algodão
Nível de impacto: MODERADO
As lavouras estão em fase de pré-colheita no Mato Grosso e na Bahia. As áreas devem começar a ser colhidas no início de junho nesses dois estados. Se a distribuição de diesel continuar comprometida, o início do trabalho será prejudicado.
Agronomicamente, não há pressa para colher. O clima seco favorece a opção de manter as lavouras no campo por mais tempo que o necessário.
No entanto, é preciso considerar que os produtores têm contratos de entrega para cumprir com tradings e indústrias.
Agroconsult
Para as lavouras que ainda estão em desenvolvimento, é preciso considerar que os trabalhos de campo são intensos, demandando diesel e combustível para aviação, utilizada nos tratos culturais, como as aplicações de defensivo). Limitações desses insumos ainda podem causar alguns problemas nesse período do ano.
Fertilizantes
Nível de impacto: MODERADO
Historicamente, as entregas de fertilizantes se concentram no segundo semestre do ano. Mas, no final do primeiro semestre, o volume de vendas e entregas começa a aumentar. Nas últimas cinco safras, as entregas e maio representaram de 6% a 8% do total do ano.
Junho tem uma relevância um pouco maior, de 7% a 9% das entregas nas últimas cinco safras, por isso caso a greve persista até a virada do mês e daí em diante, o impacto para o setor poderá ser considerado elevado. Nesse caso, as entregas para a safra 2018/19 no Centro-Oeste e nas demais regiões começarão a ficar comprometidas.
Para mitigar o impacto após a greve, há a possibilidade de aumentar o uso de elementos simples e de reduzir os estoques da indústria.
Pode haver uma corrida dos produtores rurais às compras, o que elevaria os preços dos fertilizantes e do custo dos fretes.
Fonte:Canal Rural