Setor atravessa crise provocada por queda nas exportações de carne de aves e aumento da oferta, agravada pela alta no preço dos grãos utilizados como ração nas granjas
Cerca de 15 mil trabalhadores de agroindústrias do setor de aves correm o risco de perder o emprego nos próximos meses, diz o vice-presidente da Associação Brasileira de Proteínas Animais (ABPA), Ricardo Santin. O corte de postos de trabalho seria uma das consequências mais graves da crise vivida pela avicultura, provocada pela combinação entre queda das exportações, aumento da oferta e queda no preço da carne de frango, e agravada pela alta dos custos, com a elevação do valor dos grãos utilizados na alimentação das aves. Diante desse cenário, as agroindústrias já reduziram o alojamento de pintos em 13% neste ano.
Nesta quarta-feira, dia 9, a Aurora anunciou que vai conceder férias coletivas em julho para 1.200 funcionários da unidade de Guatambu (SC). Esta é a segunda planta da cooperativa com paralisação programada. Levando em conta as unidades da BRF que também anunciaram a paralisação temporária, são quase 10 mil trabalhadores de frigoríficos estão ou vão entrar em férias coletivas, e há risco de demissão em massa no setor.
Santin, da ABPA, lembra que, além demissões, também estão em risco empregos indiretos. “Isto indica que, em uma cadeia tão grande e complexa como a nossa, podemos ter mais dois postos de trabalho indiretos perdidos [para cada funcionário demitido], o que geraria 45 mil postos de trabalho pedidos”, calcula.
De acordo com o presidente da Associação Paulista de Avicultura (APA), Érico Pozzer, as empresas de avicultura de corte e de postura empregam 50 mil pessoas. “Nos abatedouros, o uso de mão de obra é muito elevado e quando tem que parar o abate de frangos, realmente o número de demissões é muito grande", diz.
Embargo
Ricardo Santin espera que possa haver notícias melhores daqui a 60 ou 90 dias, com início das conversações com a União Europeia, que no mês passado decidiu embargar as exportações de carne de aves de 20 unidades de frigoríficos brasileiros. “Isto não quer dizer que seja a retomada de plantas ou reabilitação, mas, como indústria, nós sabemos que as nossas empresas não fizeram nada errado que de fato justificasse a proibição que a Europa fez", diz o representante da ABPA.
A recente alta do dólar, que bate na casa de R$ 3,60, pode ser benéfica para a exportação, já que deixa o produto brasileiro mais barato no mercado externo. Mas o sócio diretor da MB Agro, José Carlos Hausknecht, alerta que a elevação da moeda norte-americana também pode prejudicar a avicultura.
“Como a maior parte do frango é consumido no mercado interno e os preços dos grãos são ligados ao mercado interno, o que acaba acontecendo é que o dólar pressiona os custos muito mais que os preços do produto final. E isto acaba prejudicando também”, diz o analista.
Fonte: Canal Rural