Por conta da péssima condição de algumas rodovias, os gastos com manutenção têm aumentado, inviabilizando a continuidade do negócio
A má qualidade das estradas brasileiras não prejudica apenas o escoamento da produção agrícola. Em Mato Grosso, por exemplo, acumulam-se os caminhões parados ou em manutenção constante, por causa do excesso de buracos das rodovias. "Fazemos a conta e não entendemos como chega o fim do mês e os motoristas conseguem pagar as contas e as despesas do caminhão", conta Sebastião Freire, dono de uma transportadora.
O veículo de trabalho de Ronaldo Fernandes está parado na oficina há mais de 10 dias, à espera de uma peça destruída. Ante o valor da manutenção, que pode chegar a R$ 15 mil, o caminhoneiro já pensa em desistir da atividade. "Não sobra nada para nós. Não dá mais! Hoje, tem que vender tudo que tem, entregar tudo e abandonar, porque não tem mais condições", desabafa.
Nos pátios dos postos de combustíveis e nas oficinas, a insatisfação parece ser um sentimento comum entre esses profissionais. O caminhoneiro Ulisses Alcântara diz que alguém do governo precisa olhar pelo transporte e pelas rodovias. "A nossa vida de caminhoneiro é bastante difícil, trabalhada e sofrida. A gente precisa que algumas coisas sejam melhoradas, para que o movimento do transporte seja visto de um modo melhor", afirma.
Alcântara também faz um alerta preocupante: há veículos em péssimas condições, que precisam de manutenção, mas estão rodando. "Empresas estão quebrando, falindo, porque não têm possibilidade de fazer manutenção da frota. Já perdi muitos amigos, muitos colegas de trabalho que entregaram sua vida por falta de manutenção nos caminhões", conta.
A triste e perigosa realidade é confirmada por outros motoristas, como Amarildo Maciel. "Não é uma frota nova que está rodando por aí. Pouca gente tem condição de andar com caminhão novo. A manutenção fica a desejar um pouco, o freio você deixa até no finalzinho mesmo. Só na hora em que a lona acaba mesmo que você vai trocar", fala.
A falta de manutenção já causa reflexos também nas oficinas mecânicas que oferecem esse tipo de serviço. No estabelecimento de Cassiano Dalpiaz, o movimento caiu em torno de 30%. "O setor realmente está passando por uma crise brava. A gente teve que dar uma reduzida nos preços da mão de obra, teve que baixar para segurar as portas abertas", diz.
Grãos que ficam pelas estradas
A falta de reparos também ajuda a aumentar o desperdício de grãos nas estradas. Sebastião Freire conta que, todos os dias, a quebra varia entre 200 e 400 quilos, com destaque para a soja. "Se a transportadora for absorver todo esse prejuízo, ela tem que fechar as portas e achar gente para puxar frete. Está difícil o movimento. Estimando baixo, caiu 70%. As únicas que estão sobrevivendo são as grandes frotas do estado", diz Freire.
Fonte: Canal Rural