O ano de 2017 foi de recordes para a balança comercial brasileira, conforme dados revelados nesta terça pelo MDIC; chegamos ao auge ou há mais espaço para os embarques?
Em 2017, o Brasil quebrou os recordes de exportações de soja e milho, com 68,15 milhões de toneladas e 29,2 milhões de toneladas embarcados ao exterior, respectivamente. Os dados foram divulgados nesta terça-feira (2) pelo Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC).
No caso da soja, as vendas externas superaram com folga o melhor resultado que havia sido obtido até então: 54,3 milhões de toneladas em 2015; para o milho, embora com uma margem mais apertada, o número de 2017 também ficou acima do desempenho de 2015: 28,9 milhões de toneladas.
Diante de um quadro tão expressivo, é possível avançar ainda mais neste ano? Sim, mas depende. “O que precisamos para exportar mais é uma produção maior”, afirma o analista da Granoeste, Camilo Motter.
O ritmo inédito dos embarques se explica pela supersafra de grãos, que foi impulsionada pelo clima e é estimada pela Expedição Safra do Agronegócio Gazeta do Povo em 110,2 milhões de toneladas de soja e 93,69 milhões de toneladas de milho, aumentos, respectivamente, de 12,5% e 24,7% na comparação com os ciclos anteriores. Havia grão de sobra e demanda suficiente, deixando os preços internacionais em patamares vantajosos.
O resultado foi conquistado, portanto, num ano em que praticamente tudo funcionou da porteira para dentro. Neste, porém, nem tudo tem corrido em harmonia.
O analista da Granoeste lembra que algumas regiões no Sul do Brasil sofreram com falta de chuvas, sobretudo em novembro. “É grande a possibilidade de avanço do La Niña no Sul, que ficaria submetido a condições mais secas, mas precisamos ver a evolução. A partir de dezembro choveu bem”, explica. “Na safra passada, a produtividade foi excepcional. Se nesta a produtividade for próxima ou igual, teremos um número até superior”, complementa.
Soja
No caso da soja, tudo indica que o excedente seria exportado. “O consumo interno está parado em 45 e 46 milhões de toneladas nos últimos anos. Quase todo o volume excedente vai para exportação”, comenta Motter.
Com aumento de área avaliado inicialmente em 4,5%, a Expedição Safra calcula que a colheita da oleaginosa chega até a 115 milhões de toneladas.
Milho
Com o milho, o cenário é mais delicado. Isto porque o mercado desfavorável (ampla oferta e preços baixos, mesmo com a exportação elevada) levou a uma redução drástica de área na safra de verão e queda de produção estimada em 12%. Com 29 milhões de toneladas previstos (se o clima correr bem), o consumo interno anual - que gira em torno de 60 milhões de toneladas – seria suprido, mas no aperto. “O estoque parece ser robusto, mas não é tanto Se tiver um ‘crack’ pequeno, a safra no Centro-Sul poderia chegar a 22 milhões de toneladas e tem que abastecer metade do ano. Ficaria difícil de fazer a ponte com a safrinha”, diz Motter. Assim, o preço interno subiria e desestimularia as exportações. “Viraria uma queda de braço entre a indústria nacional e as traders, que exportam.” Contando com a safrinha, a produção total deve fechar em 90 milhões de toneladas (-4%).
Da porteira para fora, as eleições e as dificuldades do governo Temer em levar a cabo as reformas pretendidas podem mexer com o câmbio, tornando mais ou menos vantajoso o comércio internacional das commodities. “Vai ter pressão do câmbio, com mais volatilidade do que no mercado internacional”, pontua o analista.
Carnes
O mercado de carnes, no geral, também emplacou recorde de exportações, com 5,74 milhões de toneladas, contra 5,66 milhões de toneladas em 2016 (contando as proteínas bovina, suína e de frango). A carne bovina puxou a fila, com 1,2 milhão de toneladas (+12,2% no comparativo com 2016), já que frango (3,94 milhões de toneladas) e suínos (0,59 milhão de toneladas) não conseguiram superar os baques sofridos no primeiro semestre, com a Carne Fraca e o escândalo da JBS, e tiveram quedas de 0,4% e 5,7%, respectivamente.
Para 2018, a expectativa é de crescimento, recuperando o potencial perdido no ano que passou. “Com o entendimento entre russos e brasileiros em relação às questões técnicas, a carne suína produzida aqui deve ser mais demandada, com a realização da Copa do Mundo na Rússia. Além disto, a Coreia do Sul deve dar início aos embarques. O Peru é outro mercado que, em breve, deve importar a carne suína do Brasil”, afirma o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Francisco Turra. “De aves, há a expectativa de reaquecimento das importações dos países do Oriente Médio. Na Ásia, as vendas para a Indonésia ainda devem demorar a apresentar impactos positivos nas exportações. Por outro lado, há expectativa quanto a viabilização das vendas para Taiwan, cuja análise documental e de legislações já se encontra em fase final.”
Fonte: Portal do Agronegocio