Um dos principais objetivos do projeto é conectar nada menos do que todos os bovinos do planeta na nuvem cibernética para coletar dados
Um grupo de cem especialistas em tecnologia se reuniu recentemente em São Francisco, na Califórnia, com uma missão ambiciosa: criar a internet das vacas. O objetivo era conectar nada menos do que todos os bovinos do planeta na nuvem, melhorando a quantidade e a qualidade dos dados disponíveis sobre os rebanhos e, consequentemente, a produtividade, a eficiência da indústria. E diminuir a fome no mundo.
Por trás do evento, que já teve quatro edições (nas quais compareceram 500 pessoas e 50 empresas) e contou com o apoio da ONG Silicon Valley Forum e do programa de mentoria Google Developers Launchpad, onde o encontro foi realizado, estava a BovControl. Nascida no Brasil e apresentada como dona de uma tecnologia verdadeiramente disruptiva por publicações especializadas, a empresa conquistou 30 mil clientes no mundo em 18 meses e tem visto o volume de informações disponíveis na plataforma crescer em média 6,0% por semana, no mesmo período.
Ao contrário de outras ferramentas de gestão de fazendas, o BovControl usa tecnologias digitais, como internet das coisas, machine learning e inteligência artificial, que facilitam o trabalho e a gestão dos dados na cadeia pecuária, ambiente que carece de mão de obra qualificada. Assim, quando uma carga entra ou sai de uma fazenda, o peão só precisa tirar uma foto da nota fiscal. "A informação é reconhecida pelo sistema, que prepara o fluxo de caixa", diz Danilo Leão, 37 anos, cofundador do BovControl. "O dono ou o gestor da fazenda consegue perceber se sua posição é de lucro ou perda, uma realidade que nem sempre ficava clara." Num outro exemplo, satélites permitem fazer a gestão da propriedade de acordo com leis ambientais e, até mesmo, saber o volume de capim oferecido por hectare aos bois.
"Essa área tem mudado muito", diz Rodrigo Quinalha, sócio da empresa de venture capital Kick Venture. "Se até poucos anos atrás o ecossistema era imaturo e embrionário, hoje aumentou tanto a qualidade dos empreendedores que criam soluções, quanto a das companhias ligadas ao agronegócio." Segundo ele, empresas como a BovControl têm resolvido problemas globais, comuns a fazendeiros de diferentes países.
Gestão eficiente
Como numa espécie de rede social das vacas, quanto mais informações disponíveis sobre os animais e as condições da criação, mais eficiente torna-se sua gestão, segundo Leão. A plataforma oferece possibilidade de gerenciamento dos animais (com a inserção de dados zootécnicos, genéticos e ganhos de peso, entre outros), que é uma ferramenta gratuita. "Na verdade, é uma plataforma mutante", afirma Leão. "A cada semana, enxergamos coisas novas que funcionam e outras nem tanto, em toda a cadeia de valor da pecuária, inclusive higiene e beleza e financeiro."
Isso porque, como na maioria dos processos de desenvolvimento de tecnologias digitais, o BovControl funciona num ambiente aberto e colaborativo. Assim, balanças, leitores, chips e outras ferramentas que produzem dados sobre os animais dão origem a produtos, de acordo com o interesse dos usuários, como aconteceu no hackaton, a maratona de desenvolvimento, em São Francisco. Desse ambiente colaborativo, por exemplo, saiu um produto que permitiu a pequenos produtores da Nigéria tomar microcrédito bancário, usando a plataforma como garantia colateral. O aplicativo funciona no sistema operacional Android, presente em 80% dos telefones rurais e também trabalha offline.
Confidencialidade
Entre os investidores do BovControl estão Romero Rodrigues e Rodrigo Borges, os criadores do Buscapé; a aceleradora da Telefónica, Wayra; e o investidor sul-africano Hein Brand, ex-presidente do grupo Naspers. A sede da empresa está em Boston, com filiais em São Francisco e São Paulo. "Recebemos estudantes dos MBAs do MIT e de Harvard que querem ver de perto o DNA de uma empresa de grande crescimento", diz ele. Apesar de afirmar que a BovControl já funciona em lucro operacional, Leão diz estar impedido de falar em números por acordo de confidencialidade assinado com investidores, em vias de fazer novo aporte.
O plano, agora, é fazer um ICO (initial coin offering), modalidade de captação de capital em criptomoeda que vem crescendo nos Estados Unidos. Espécie de crowdfunding com fins lucrativos para o investidor, essa modalidade ainda não é regulada, mas tem ganhado adeptos exatamente pela facilidade de negociações. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) soltou um comunicado em outubro informando que está atenta à modalidade e orientando investidores.
Fonte: Canal Rural