Recuperação da confiança do produtor rural em investir é a principal responsável pela retomada do setor, afirmam fabricantes
Depois de anos de crise, o setor de máquinas e implementos agrícolas já cresceu quase 20% em 2017. Para as empresas, a volta da confiança do produtor rural em investir é a principal responsável pela retomada do setor.
O período de 2015 até o início de 2016 foi um pesadelo para o setor. As vendas registraram queda de 35% e 9 mil vagas de emprego foram fechadas no Rio Grande do Sul, estado que fabrica 70% do maquinário agrícola do Brasil.
O diretor de vendas da Massey Ferguson, Rodrigo Junqueira, afirma que diversas estratégias foram adotadas pela indústria para manter empregos no período. “Nós utilizamos ferramentas como banco de horas e antecipação de férias, visando manter o colaborador capacitado, que é um investimento feito ao longo de um bom tempo”, diz.
Neste ano, entretanto, o cenário está diferente. O setor já cresceu 17% e acredita que deve fechar o ano nesse mesmo patamar, com base no entusiasmo de agricultores como Éder dos Santos. Produtor de soja e arroz, ele resolveu ampliar o cultivo da leguminosa em 100 hectares. Para chegar à produtividade esperada de 65 sacas por hectare, precisa de uma plantadeira com maior capacidade.
Ele encontrou boas condições de compra para o equipamento, entregando a plantadeira antiga como entrada e financiando o saldo em set vezes. Os juros aplicados na operação já são os anunciados para o novo Plano Safra empresarial, que estão um ponto percentual mais baixos que na temporada passada.
“Para ter uma lavoura boa, para produzir bem, a única coisa que o produtor realmente tem domínio é fazer investimentos”, diz Éder dos Santos.
O gerente comercial de uma revenda de máquinas Volzear Longarai Júnior afirma que, além do preço do equipamento, é preciso lançar mão de outras estratégias para manter o bom ritmo de vendas, como trabalhar com desconto para pagamentos à vista e ofertar a modalidade de consórcio. “E fomentar a venda através de financiamento, flexibilizando a parte de recursos próprios para os clientes”, relata.
A estabilidade na economia e a queda na taxa de juros do Moderfrota deram mais apetite ao produtor rural. E o reflexo dentro das fábricas foi direto. A Massey Ferguson, por exemplo, retomou a rotina de produção que havia sido diminuída no início do ano passado, por conta da crise, e ainda lançou 30 novos produtos.
Rodrigo Junqueira afirma que este é o ano mais importante da história da fabricante. “Nós nunca tivemos um volume de lançamento tão grande como tivemos em 2017. Estamos até agora com 17% de crescimento acumulado no ano, e acreditamos que fecharemos o ano aí ao redor de 15%”, diz o diretor.
A expectativa das fábricas e revendas neste segundo semestre também está apoiada nos plantios de soja e arroz, que começam em breve no território gaúcho. Além disso, as vendas também devem ser alavancadas pela Expointer, feira agropecuária que tem início neste fim de semana em Esteio (RS) e que ano passado fechou com faturamento de R$ 1,9 bilhão.
O presidente do Sindicato das Indústrias de Máquinas e Implementos Agrícolas no Rio Grande do Sul (Simers), Cláudio Bier, calcula que os negócios efetuados na Expointer representem perto de um mês do faturamento. “É a grande feira do segundo semestre, e tem um apelo mágico. Às vezes, dizem ‘ah, mas a Expointer este ano não vai vender’, e a gente acaba cada vez vendendo mais e batendo nossos próprios recordes”.
Ainda que o ano tenha tudo para terminar bem para o mercado de máquinas agrícolas, possíveis mudanças no Moderfrota – programa de financiamento responsável por cerca de 90% das vendas de equipamentos – preocupa o setor. O presidente do Simers afirma que existe o temor de que a linha de crédito venha a ficar mais caro ou seja extinta. “Se isso acontecer, será muito ruim, pois vamos deixar de investir em nossa indústria, o agricultor vai deixar de ter modernidades disponíveis e acaba não mantendo a produção, que é o que interessa ao país”, enumera.
Fonte: Canal Rural