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Fêmeas superaram 50% do abate nos frigoríficos, cenário que deve reduzir a oferta e contribuir para a valorização da arroba em 2026
Por Toninho Gaúcho
Publicado em 03/10/2025 16:30
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O abate de fêmeas atingiu níveis históricos neste ano de 2025 e está contribuindo para a mudança de ciclo pecuário. Esse cenário contribuiu para os preços da arroba neste ano, mas a expectativa é que a redução do plantel reprodutivo deve gerar menor oferta de animais e valorização da carne a partir de 2026.

Dados recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que o abate de fêmeas atingiu patamares históricos em 2025, ultrapassando a marca de 50% da participação nos frigoríficos e, em alguns meses, superando o volume de machos. Esse movimento, que já vinha sendo observado desde 2023, ganhou força neste ano e agora levanta alertas sobre os efeitos no médio prazo.

No curto prazo, a disponibilidade da oferta de fêmeas no mercado ajudou a segurar os preços da arroba em São Paulo, que oscilaram entre R$ 305,00 e R$ 310,00 depois de sucessivas quedas em setembro.

O analista  de mercado Pedro Gonçalves, da Scot Consultoria, explica que o volume elevado de fêmeas abatidas ajudou a manter a arroba do boi gordo pressionada neste ano.

“Esse descarte elevado de fêmeas sustenta preços mais baixos agora, mas compromete a produção de bezerros nos próximos anos. A reposição já subiu 30% a 35% em relação a 2024, e a tendência é de valorizações ainda maiores em 2026 e 2027”, afirma.

Entre as fêmeas abatidas, as novilhas tiveram participação expressiva. Frigoríficos voltados a programas de carne premium ampliaram a procura por esses animais, considerados de melhor acabamento.

Para o pecuarista de corte e fundador da comunidade Balcão do Boi, Lorenzo Junqueira, os dados mais recentes mostram que a queda no descarte de vacas e novilhas já começa a refletir na valorização do animal pronto para o abate.

“Com a redução do abate de fêmeas, assim como já vimos em ciclos anteriores, a oferta de animais tende a diminuir consideravelmente. Esse é um movimento que dá sustentação para preços mais firmes à frente”, explica Junqueira.

Segundo ele, não se pode esquecer que o descarte recorde de fêmeas nos últimos anos ainda terá efeitos diretos sobre o mercado. “Essa redução no plantel reprodutivo certamente vai impactar a disponibilidade de animais prontos para o abate nos próximos ciclos”, acrescenta.

Mesmo diante de momentos pontuais de queda nas cotações, o pecuarista reforça que os fundamentos seguem indicando um cenário de alta. “Os números estão aí: a oferta futura tende a ficar mais restrita. O produtor precisa ficar atento a esses sinais e se preparar para os próximos movimentos do mercado”, completa.

Para a indústria, o abate recorde de fêmeas foi uma forma de manter a engrenagem girando em 2025, num cenário de margens estreitas e consumo retraído. “A pecuária está num ponto de inflexão. O excesso de oferta segurou preços agora, mas estamos construindo uma escassez para o futuro. Quem se preparar terá a chance de colher os melhores resultados do ciclo”, conclui o analista da Scot Consultoria.

Além da projeção de menor oferta de animais para o próximo ano, o mercado está acompanhando fatores que podem aquecer a demanda no mercado doméstico em 2026. Eventos como a Copa do Mundo e as eleições devem movimentar a economia e o consumo doméstico de carne. Na exportação, a expectativa é de continuidade no forte apetite da China e a possibilidade de abertura de mercados estratégicos, como Japão e Coreia do Sul.

O momento, segundo Junqueira, é de atenção e estratégia. Quem tiver condição deve antecipar a reposição, especialmente com animais mais jovens. A lógica é clara: um bezerro de 12 meses comprado agora estará pronto para abate em 2026, período em que a oferta pode ser ainda mais restrita.

Esse movimento deve resultar em valorização expressiva da arroba ao longo do próximo ano, trazendo oportunidades para quem se posicionar de forma antecipada.“O mercado segue dinâmico e exige tomada de decisão rápida. O produtor que se organizar agora pode capturar ganhos significativos quando a restrição de oferta bater mais forte”, reforçou Junqueira.

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