Durante décadas, o sorgo foi utilizado principalmente na alimentação animal. No entanto, esse cenário vem mudando. Pesquisadores, produtores e a indústria estão redescobrindo o potencial desse grão que tem mostrado com um crescimento significativo na produção dos últimos anos e se destacado nos setores agrícola, energético e comercial.
O sorgo, que é resistente a condições adversas como secas, tem sido pesquisado como uma alternativa altamente promissora para a produção de etanol, o que abre novas oportunidades para os setores sucroalcooleiro e de milho. Pesquisa conduzida pela empresa norte-americana Corteva está avaliando o potencial do grão na produção de etanol, bem como as características de seus subprodutos, com o objetivo de fomentar a expansão da cultura na safrinha do Mato Grosso e na região Norte do país.
Os estudos indicam que o sorgo apresenta um teor de amido muito semelhante à média observada em amostras de milho, reforçando o seu potencial energético. Além da possível aplicação como biocombustível, o sorgo também vem abrindo espaço na indústria de bebidas. Na China, por exemplo, o grão já é utilizado na produção do Baiju, uma bebida alcoólica destilada de grande teor alcoólico e destaque econômico no mercado asiatico.
Resistência climática amplia as possibilidades de cultivo
Segundo estudos da Embrapa, outra vantagem do sorgo é a capacidade de se adaptar a uma variação ampla de ambientes e conseguir se desenvolver mesmo sob condições climáticas desfavoráveis à maioria dos outros cereais. Essa característica tem despertado o interesse de produtores. O presidente da Abramilho, Paulo Bertolini destaca a importância de avançar nas pesquisas voltadas ao desenvolvimento de variedades de sorgo mais resistentes às geadas, ressaltando que a cultura pode se tornar uma alternativa mais viável e segura ao milho nas regiões sulinas, onde as condições climáticas são mais adversas.
“As regiões que estão nesse clima aqui do sul do país — o Paraná, o Mato Grosso do Sul — que têm um risco de geada maior do que as regiões mais ao norte, poderiam considerar o sorgo como uma opção mais interessante em comparação ao milho, nesse cenário de perda de janela e em regiões com risco climático mais elevado. Por isso precisamos avançar em variedades de sorgo mais resistentes a geadas”.
Comitê de estudos para compreender as perspectivas futuras do sorgo
Com o propósito de conhecer ainda mais o sorgo, o diretor executivo da Abramilho, Glauber Silveira, propôs a criação de um comité, dentro da Câmara Setorial de Milho e Sorgo, que deve reunir associações de produtores e empresas de pesquisa do setor agrícola. Esse grupo de trabalho será dedicado exclusivamente à realização de pesquisas sobre a planta. A proposta foi apresentada durante a 53ª reunião da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva de Milho e Sorgo, realizada nesta quarta-feira (24), pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), em Brasília.
“O comitê buscará entender de que forma podemos avançar e melhorar tanto o plantio quanto a questão do preço. Também será importante analisar os níveis de proteína e amido do grão, para que possamos atribuir um valor mais justo ao produto. Se a indústria estiver disposta a pagar mais por um teor mais elevado de amido, isso pode despertar maior interesse por parte dos produtores”, explica Silveira.
Instituições como a União Nacional do Etanol de Milho (Unem), Embrapa, Corteva e CropLife foram convidadas a participar e devem integrar o comitê. A ideia é acompanhar e aprofundar as pesquisas sobre a cultura, compreender as práticas de manejo, a composição nutricional e os teores de amido e proteínas do sorgo.