Pesquisadores da Embrapa Agroindústria Tropical (CE) e da Universidade Federal do Ceará (UFC) desenvolveram um Sistema Integrado de Reatores Anaeróbios para transformar resíduos de frutas e hortaliças da Central de Abastecimento do Ceará (Ceasa-CE) em energia renovável. A tecnologia será apresentada entre os dias 14 e 17 de outubro, durante o XV Workshop e Simpósio Latino-Americano de Digestão Anaeróbia (XV DAAL), em Fortaleza (CE).
Atualmente, a Ceasa-CE envia de 17 a 25 toneladas de resíduos por mês ao aterro sanitário, operação que custa aproximadamente R$ 230 mil. Com o novo sistema, essa biomassa pode gerar biogás suficiente para atender até 100% da demanda energética da central nos horários de pico e cerca de 20% nos demais períodos. O excedente poderá ser convertido em biometano e comercializado.
O processo desenvolvido inclui o pré-tratamento dos resíduos, por meio de trituração e prensagem, que os divide em frações líquida e sólida. A fração líquida é destinada a reatores UASB (Upflow Anaerobic Sludge Blanket), enquanto a sólida segue para compostagem ou para reatores de metanização seca, ainda em fase de estudo.
Segundo os pesquisadores, o sistema apresenta maior rendimento na digestão de substratos altamente biodegradáveis, ocupa menos espaço e contribui para reduzir custos de descarte e emissões de gases de efeito estufa. A expectativa é que a tecnologia possa ser replicada em outras 57 centrais de abastecimento no Brasil.
O projeto também explorou a produção de biohidrogênio a partir da fermentação escura, utilizando um reator anaeróbio de leito estruturado (AnStBR), que possibilita maior retenção de biomassa e eficiência na conversão da fração líquida em hidrogênio. Apesar de os volumes obtidos ainda não serem competitivos em escala comercial, os pesquisadores avaliam que a experiência abre novas possibilidades para rotas de produção de energia limpa.
O XV DAAL deve reunir cientistas, profissionais do setor, representantes de órgãos públicos e empresas privadas para discutir avanços na digestão anaeróbia e no uso de energias renováveis. O evento é organizado pela UFC e Embrapa, com apoio de instituições acadêmicas, governamentais e empresariais.