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Lula defende que regulação sobre salvaguardas comerciais seja feita dentro do acordo Mercosul-UE
Publicado em 05/09/2025 17:30
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BRASÍLIA (Reuters) - Em conversa telefônica nesta sexta-feira com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu que a regulação sobre salvaguardas que a União Europeia estuda para conter excessos nas importações seja feita dentro dos princípios do acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul, aprovado em dezembro de 2024.

 

"O presidente Lula também defendeu que qualquer regulamento sobre salvaguardas que seja adotado internamente pela UE esteja em plena conformidade com o espírito e os termos pactuados no Acordo", disse o Palácio do Planalto em nota.

A conversa acontece dois dias depois de a Comissão ter validado o acordo e ter enviado a proposta para votação no Conselho Europeu, em um movimento esperado pelos sul-americanos, mas que surpreendeu pela velocidade da decisão, já que há conhecidas resistências na UE ao acordo, especialmente vindas da França.

O alerta do presidente brasileiro foi dado porque, justamente para amainar as resistências francesas, a Comissão negociou a regulamentação de artigos do acordo que permitem a aplicação de salvaguardas no caso de uma entrada excessiva de produtos agrícolas do Mercosul no mercado europeu.

As salvaguardas preveem a aplicação de controles de importação no caso de um determinado produto passar a ocupar repentinamente mais de 10% do mercado, ou se a redução do preço de um produto for maior que 10%.

De acordo com uma fonte brasileira ouvida pela Reuters, a previsão está no acordo e não serve apenas para os europeus ou para produtos agrícolas, mas para os dois lados, e é uma proteção para evitar desequilíbrios. "O que precisamos ver é como vai ser a regulamentação disso pelos europeus e como se afeta de alguma forma o acordo", disse a fonte.

A proposta de regulamentação feita pelos Europeus mira apaziguar a resistência da França ao acordo. De acordo com fontes francesas, o governo de Emmanuel Macron aprovou o proposto pela Comissão e elogiou o esforço da equipe de von der Leyen para apaziguar as preocupações da França, mas ainda é cedo para uma decisão sobre apoiar ou não o acordo.

De acordo com fontes brasileiras, os sinais dados pelos franceses são de que, tendo suas preocupações atendidas, a França, mesmo que não vote a favor do acordo, não tentará conseguir votos contrários de outros países, como vinha fazendo, e pode até mesmo se abster durante a votação no Conselho Europeu.

A discussão sobre um texto que apaziguasse os franceses surgiu durante a reunião bilateral entre o presidente Lula e Macron durante sua visita à França, em junho. De acordo com uma fonte presente ao encontro, Lula disse a Macron entender as questões francesas, mas que a solução deveria vir de dentro da UE, porque reabrir o acordo seria impossível.

"Se reabrirmos as discussões nunca mais vamos conseguir de novo fechar", disse a fonte.

Esse também foi o tom da conversa entre Lula e von der Leyen no final de junho, às margens da Cúpula do G7.

Em princípio, dizem fontes brasileiras, o Mercosul não teria problemas com as salvaguardas, mas a preocupação é de que uma regulamentação mais liberal possa permitir que o mecanismo seja usado indiscriminadamente -- daí a fala desta sexta de Lula com von der Leyen.

No entanto, a validação pela Comissão Europeia e a perspectiva de uma aprovação em breve pelo Conselho Europeu são passos decisivos para a assinatura final do acordo, que o Brasil espera fazer durante a Cúpula do Mercosul em Brasília, em dezembro deste ano, enquanto o país está na presidência do bloco. Lula reiterou esse desejo no telefonema.

(Reportagem adicional de Michel Rose, em Paris)

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