O projeto fez a identificação de pragas e espécies benéficas associadas ao cultivo da macadâmia em áreas produtoras do Brasil, e em países produtores da noz no exterior. São eles: Austrália, África do Sul, China, Colômbia, Coreia, Costa Rica, Egito, Estados Unidos (Havaí), Guatemala, Índia, Irã, Israel, Malaui, Nova Zelândia, Paraguai, Quênia, Reino Unido, Tailândia e Vietnã.
A partir deste levantamento, o estudo identificou 18 espécies exóticas sinalizadas pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) como “Pragas Quarentenárias Ausentes” (PQA) para o Brasil de risco iminente de entrada no país.
O trabalho de avaliação da entomofauna presente em plantios do Brasil ocorreu em um importante polo produtor da noz no Brasil, no município de Dois Córregos (SP).
O levantamento de insetos e ácaros foi realizado em duas cultivares de macadâmia: IAC 4-12B e HAES 333. Entre 2020 e 2025, foram coletados ramos, folhas, racemos e frutos para serem levados ao Laboratório de Entomologia e Fitopatologia (LEF) da Embrapa Meio Ambiente para análise, registro, separação e armazenamento.
A pesquisadora Jeanne Prado, líder do projeto, ressalta a interface interativa do aplicativo que permite a busca por informações detalhadas sobre as espécies identificadas.
“O usuário pode consultar dados como o hábito alimentar dos insetos e ácaros e o local da planta onde foram encontrados, além de acessar fotos das espécies coletadas, o que facilita a avaliação da amostragem em campo”.
Já a pesquisadora Maria Conceição Pessoa, destaca que as informações sobre as principais pragas que afetam a cultura em outros países serão fundamentais para desenvolver ações preventivas à entrada de espécies ainda não registradas em território nacional. “É necessário conhecê-las para realizar prevenção e monitoramento apropriados”.
A cultura da macadâmia no Brasil tem alta rentabilidade, mas possui também elevados custos de implantação e operação, além de um longo tempo até a produtividade efetiva, e alta sensibilidade a eventos climáticos.
A Embrapa Meio Ambiente enxerga uma oportunidade para crescimento desde que haja investimento em genética, mecanização e diversificação de cultivo.
A produção brasileira, que já alcançou picos de 8,5 mil toneladas em 2019, sofreu uma queda acentuada de cerca de 30% em 2025, o que resultou em uma safra inferior a 4 mil toneladas. A redução é atribuída às secas e calor excessivo durante o período de florada, que comprometeram a frutificação e a produtividade em todas as regiões produtoras.
Pela primeira vez em 30 anos, cerca de 90% da produção foi destinada ao consumo interno, um cenário inédito, já que historicamente a maior parte da produção era voltada à exportação.
Atualmente, o Brasil conta com cerca de 5 mil hectares cultivados com macadâmia, com uma concentração expressiva em São Paulo, especialmente no município de Dois Córregos, que responde por aproximadamente 50% da produção nacional.
Já o Espírito Santo, com destaque para a região de São Mateus, contribui com cerca de 30%, enquanto Minas Gerais é responsável por aproximadamente 25%.
O engenheiro agrônomo da QueenNut, Leonardo Moriya afirma que a cultura da macadâmia tem um cenário promissor de expansão. Dados do International Nut & Dried Fruit Council (INC) indicam que, entre 2008 e 2018, o consumo de castanhas e nozes cresceu 55% e 43%, respectivamente, em países de economia alta e média, perfil no qual o Brasil se insere.
Hoje, o país conta com plantações comerciais em nove Estados: Bahia, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo, que é responsável por metade da produção nacional.
Porém, o setor enfrenta uma escassez de informações sobre as pragas que ocorrem nos cultivos brasileiros, destaca a Embrapa.
“Por isso, era fundamental realizar um levantamento local, para identificar com precisão as espécies de insetos e ácaros presentes nos pomares brasileiros e ampliar o conhecimento necessário para orientar políticas públicas e práticas agrícolas sustentáveis”, afirma Jeanne Prado.
Crecci aponta que o acervo de conhecimento gerado pelo projeto e, agora sistematizado no InsetoNutWeb, tem múltiplas finalidades. “Serve de base para ações de capacitação, como treinamentos voltados à correta identificação de espécies, monitoramento de campo e manejo integrado de pragas. Também subsidia políticas públicas voltadas à Defesa Fitossanitária Nacional e ao fortalecimento das chamadas Culturas com Suporte Fitossanitário Insuficiente (CSFI), conhecidas como minor crops — caso da macadâmia no Brasil”, acrescenta.
Investimentos para cultivo
O cultivo da macadâmia requer investimentos iniciais estimados em R$ 15 mil por hectare e custos operacionais anuais que podem alcançar R$ 25 mil por hectare, segundo a Embrapa.
Em safras favoráveis, a receita pode chegar a R$ 50 mil por hectare, com produtividades entre 3 e 5 toneladas por hectare, acima da média mundial, perto de 2,5 toneladas por hectare.
A macadâmia é uma cultura perene e de longo prazo que começa a produzir entre quatro e cinco anos após o plantio. Seu pico produtivo é atingido entre o 10º e 12º ano de vida da planta.
O preço da noz no mercado interno pode alcançar R$ 180 por quilo quando beneficiada, enquanto no comércio internacional gira em torno de US$ 3 por quilo. Na avaliação da Embrapa, o alto valor de mercado torna a cultura atrativa, mas o retorno sobre o investimento é demorado, e a rentabilidade depende muito das condições climáticas e do manejo adequado.
Embora o Brasil esteja entre os dez maiores produtores de macadâmia do mundo, sua participação ainda representa menos de 3% da produção global.
Fonte: Globo Rural