WASHINGTON (Reuters) - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse no domingo que as tarifas impostas por seu governo ao México, Canadá e China podem causar dor no "curto prazo" para os norte-americanos, enquanto líderes europeus reunidos nesta segunda se preparam para a possibilidade de que também enfrentem taxas dos EUA.
Os mercados acionários e as moedas globais caíam nesta sessão devido às preocupações com uma guerra comercial economicamente prejudicial.
Trump disse que falará nesta segunda-feira com os líderes do Canadá e do México, que anunciaram suas próprias tarifas retaliatórias, mas minimizou as expectativas de que eles mudariam de ideia.
"Não espero nada dramático", disse Trump a repórteres ao retornar a Washington de sua propriedade em Mar-a-Lago, na Flórida. "Eles nos devem muito dinheiro e tenho certeza de que vão pagar."
Ele também disse que tarifas sobre a União Europeia "definitivamente acontecerão", mas não disse quando.
"Eles não levam nossos carros, não levam nossos produtos agrícolas. Eles não levam quase nada e nós levamos tudo deles", disse ele no domingo.
Os líderes da UE iriam discutir as tarifas em Bruxelas nesta segunda, na esteira dos comentários de Trump.
O chanceler Olaf Scholz, da Alemanha, a maior economia da UE e dependente das exportações, disse que o bloco poderia responder, se necessário, com suas próprias tarifas contra os EUA, mas enfatizou que é melhor chegar a um acordo sobre o comércio.
O primeiro-ministro de Luxemburgo, Luc Frieden, afirmou ao chegar para as discussões: "Acho que tarifas são sempre ruins. As tarifas são ruins para o comércio. As tarifas são ruins para os Estados Unidos."
A chefe de política externa da UE, Kaja Kallas, disse que não há vencedores em uma guerra comercial, afirmando que, se uma guerra eclodir entre a Europa e os Estados Unidos, "quem estará rindo à toa é a China".
Trump deu a entender que o Reino Unido, que deixou a UE em 2020, poderia ser poupado de tarifas, dizendo: "Acho que isso pode ser resolvido".
TERÇA-FEIRA
As tarifas sobre o Canadá, México e China, descritas em três decretos, entrarão em vigor às 2h01 (horário de Brasília) de terça-feira.
Economistas afirmam que o plano do presidente republicano de impor tarifas de 25% sobre o Canadá e o México e tarifas de 10% sobre a China - os três maiores parceiros comerciais dos Estados Unidos - desacelerará o crescimento global e aumentará os preços para os norte-americanos.
Trump argumenta que elas são necessárias para conter a imigração e o tráfico de narcóticos e estimular as indústrias nacionais.
"Podemos sofrer um pouco no curto prazo, e as pessoas entendem isso. Mas, a longo prazo, os Estados Unidos têm sido enganados por praticamente todos os países do mundo", disse ele.
As tarifas de Trump cobrirão quase metade de todas as importações dos EUA e exigirão que os Estados Unidos mais do que dobre sua própria produção industrial para cobrir o déficit- uma tarefa inviável no curto prazo, escreveram analistas do ING.
Outros analistas afirmam que as tarifas podem levar o Canadá e o México à recessão e dar início à "estagflação" - inflação alta, crescimento econômico estagnado e desemprego elevado.
EMERGÊNCIA NACIONAL
Um informativo da Casa Branca não deu detalhes sobre o que o Canadá, o México e a China precisariam fazer para obter uma trégua.
Trump prometeu manter as tarifas em vigor até que acabe o que ele descreveu como uma emergência nacional sobre o fentanil, um opioide mortal, e a imigração ilegal para os Estados Unidos.
A China chamou o fentanil de problema dos Estados Unidos e disse que contestará as tarifas na Organização Mundial do Comércio e tomará outras contramedidas, mas também deixou a porta aberta para negociações.
A presidente mexicana, Claudia Sheinbaum, prometeu resiliência e disse que fornecerá mais detalhes nesta segunda-feira sobre as tarifas retaliatórias que ordenou no fim de semana. O Canadá disse que tomará medidas legais nos órgãos internacionais relevantes para contestar as tarifas.
As montadoras de automóveis serão particularmente atingidas, com novas tarifas sobre veículos fabricados no Canadá e no México, sobrecarregando uma vasta cadeia de oferta regional em que as peças podem cruzar fronteiras várias vezes antes da montagem final.
(Reportagem de Jarrett Renshaw em West Palm Beach, EUA; Promit Mukherjee em Ottawa; Kevin Krolicki e Qiaoyi Li em Pequim; Andrea Shalal, David Lawder, Douglas Gillison, Doina Chiacu, Susan Heavey em Washington; Josephine Mason em Londres)