A produção de leite nos principais países exportadores teve crescimento fraco no início de 2023. Em que pese o pouco crescimento da oferta, os preços dos láteos estão em queda desde março de 2022. No leilão GDT de 02 de maio, comparado com o de março/22, a manteiga foi negociada a US$4.947, redução de 43,2%, o queijo a US$4.561, redução de 40,2% e o leite em pó integral a US$ 3.230, queda de 47,3%. Esse movimento baixista reflete a fraca demanda chinesa, com queda acentuadas das importações em 2022 e início de 20023. Além disso, elevada inflação, aumento das taxas de juros e baixo crescimento do PIB tem prejudicado a demanda global. A previsão do Banco Mundial para o crescimento do PIB global em 2023 é da ordem de 1.7%, sendo puxado, principalmente, pelo crescimento dos países da Ásia.
Para o Brasil, em 2023, é projetado pelo Banco Central um crescimento do PIB de 1%, o USDA prevê 0,9% e o FMI 0,8%. A taxa de desemprego registrou pequena piora no primeiro trimestre do ano, subindo para 8,8% e a inflação, segundo o relatório FOCUS do Banco Central, pode superar 6,0%. Esta expectativa do mercado, dá ânimo à manutenção da taxa Selic em 13,25% ao ano. Um dado preocupante é a elevada inadimplência das famílias, mais de 43% das pessoas adultas no Brasil estão inadimplentes. Esses fatores inibem o consumo e põe pressão baixista nos preços do mercado de lácteos, que são bastante sensíveis a variação de renda. Por fim, a taxa de câmbio tem oscilado ao redor dos R$5,00, com projeções de R$5,20 para final de 2023 e R$5,25 para dezembro de 2024.
Com um Real mais valorizado, preços de lácteos decrescente no mercado internacional e um produto lácteos importado mais barato que o equivalente brasileiro, a tendência é que as importações de leite e derivados sigam mais elevadas. De janeiro a abril desse ano, as importações cresceram 210% e as exportações decresceram 57%. No período, foram internalizados 620 milhões de litros equivalente leite. Essas importações parecem atípicas ao representarem mais do dobro da média dos últimos cinco anos (2017 a 2021).
No mercado doméstico os preços dos lácteos continuam pressionando a inflação. Enquanto o IPCA acumulado em 12 meses até abril/23 está em 4,18%, alimentos e bebidas fecharam em 5,87% e leite e derivados atingiu 14,69%. Isto é devido ao aumento dos preços dos lácteos iniciados em dezembro de 2022 e que, mesmo tendo perdido força, ainda segue bem acima da inflação geral e da de alimentos e bebidas. Contudo, é relevante destacar que o spread do preço dos diferentes produtos lácteos no atacado, em relação ao preço pago aos produtores de leite, está abaixo do spread dos últimos sete anos (2016 a 2023), o que implica em margens industriais relativamente mais apertadas para os laticínios.
Pelo lado dos produtores, o índice de relação de troca entre o preço recebido pelo leite e o preço pago pelos insumos está acima da média dos últimos 7 anos (2016 a 2023). Isto indica que as margens da produção de leite estão melhores e tendem a incentivar o aumento de produção. Por enquanto, a retomada da oferta ainda não ocorreu e os dados preliminares de captação de leite do primeiro trimestre divulgados pelo IBGE indicaram queda de 1,48% em relação ao mesmo período do ano passado.
O cenário para a cadeia de lácteos se mostra bastante desafiador, diante de um quadro de elevada importação, baixas margens para os laticínios, baixo consumo esperado e elevação sazonal da oferta a partir de julho. Isso pode levar a um ajuste negativo nos preços em toda a cadeia produtiva, dificultando a gestão e rentabilidade em produtores e laticínios menos estruturados, dando sequência ao processo de consolidação setorial.
Fonte: Notícias Agrícolas