Nesta terça-feira (03), o volume de negócios no mercado físico do boi gordo apresentou fluxo aparentemente regular para o dia. A oferta de animais terminados posto à venda permitiu que boa parte das unidades de abate avançassem um pouco mais com suas escalas para a etapa final da próxima semana. Boa parte dos lotes ofertados eram compostos por fêmeas, ainda efeito do período de descarte de matriz. Todavia, indústrias passaram a regular o ritmo de suas aquisições, de olho nas suspensões temporárias das importações de carne de frigoríficos brasileiros adotadas pelo governo chinês.
A estratégia das índústrias frigoríficas no Brasil é manter uma produção de carne bovina equalizada ao consumo vigente, sem gerar excedentes nos estoques diante do risco de desovar parte do volume produzido ao exterior dentro do mercado doméstico. Muitos frigoríficos relataram que fizeram aquisições de boiada gorda até o final da próxima semana e se ausentaram das compras por preocupações com as atitudes da China. O risco de paralisação sem motivos mais concretos eleva as incertezas com relação a dinâmica de negócios no mercado físico do boi gordo.
Em notícias mais recentes, o bloqueio prolongado em Xangai, o centro financeiro da China, vem enfraquecendo o comércio de carnes do país, normalmente em expansão, com medidas rigorosas contra a COVID-19 causando bloqueios logísticos em toda a indústria de alimentos em um sinal das crescentes interrupções nos negócios. O desafio de transportar alimentos dentro e nos arredores de Xangai destaca problemas semelhantes em muitas outras cidades chinesas, já que o governo chinês persiste com sua controversa estratégia de zero COVID, apesar dos crescentes riscos para sua economia.
As últimas compras de gado gordo por parte das indústrias frigoríficas foram para garantir a demanda interna no Brasil em função da entrada da massa salarial e comemoração do Dia das Mães, segundo maior período de consumo do ano, depois das festas de final de ano. Como já destacado, a possibilidade de movimentos de alta nos preços fica cada vez menor para o curtíssimo prazo diante das incertezas gerada pelo principal mercado consumidor da proteína brasileira, a China. Tal condição já começa a repercutir de forma negativa no planejamento para alojamento de animais nos confinamentos em 2022.
Embora os valores pagos no lotes de gado para reposição estajem bem mais baixos neste momento frente ao mesmo período do ano passado, os custos com nutrição animal, que representam mais de 25% dos gastos totais, continuam elevados. Além disso, depender dos fluxos de exportação de carne para China passou a ser muito arriscado, igual ao ano passado.
O volume de negócios no mercado atacadista seguiu suficiente para garantir a estabilidade dos preços dos principais cortes bovinos. Sem grandes excedentes de produto nas câmaras frias, as indústrias frigoríficas continuam operando com preços sustentados. Paralelamente, altas nos preços das carnes concorrentes (frango e suíno) devem manter um fluxo regular das vendas da proteína bovina. A cautela nas compras de gado remete à dinâmica observada no atacado, onde espaço para altas vai depender do escoamento no mercado doméstico e como será impactada a exportação diante do menor apetite chinês.
Fonte: Notícias Agrícolas