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Peste Africana: doença pode dizimar 50% do maior rebanho de suínos do mundo
08/08/2019 08:55 em Notícia

Projeção é do Rabobank, que não vê possibilidade de cobrir déficit na China por outras proteínas ou importações de carne

A Peste Suína Africana (PSA) deve provocar uma queda de até 50% no rebanho da China, o maior do mundo, até o final do ano, em áreas de confinamento, de acordo com relatório da Rabobank. Segundo a companhia, perdas consideráveis no rebanho reprodutivo atrasarão a recuperação da indústria de carne suína chinesa.

“Os esforços de reconstrução serão ainda mais complicados pelo risco de recontaminação, apesar dos recursos financeiros disponíveis”, traz o documento.

"Metade dos porcos do mundo está na China e metade deles foram eliminados. Aproximadamente um quarto dos porcos do mundo já pereceram. Isso é uma enorme perda e é algo que deve ser considerado como um grande fator às medidas que tomaremos para 2020”, disse Christine McCracken, analista sênior de proteínas do Rabobank, ontem (6/7), em entrevista ao AgriTalk.

Desde sua descoberta, em agosto de 2018, a Peste Suína Africana se espalhou para todas as províncias da China continental. Com a doença afetando agora uma estimativa de 150 milhões a 200 milhões de suínos, a perda esperada de 30% na produção de carne suína é quase 30% maior que a produção anual de carne suína dos EUA, por exemplo, e equivalente à oferta anual de carne suína da Europa.

McCracken disse que nunca viu algo assim na indústria de proteínas e não espera ver isso novamente. Segundo ela, é difícil para os produtores norte-americanos entenderem que os chineses não estão comprando mais porcos. E, embora os produtores devam se livrar da carne de porco adequadamente durante os surtos da peste, McCracken disse que grande parte dessa carne ainda está entrando em freezers na China.

“Todo aquele porco precisa ser consumido. Os freezers estão cheios, o consumo de carne suína está baixo e há algumas preocupações da parte deles com a segurança dessa carne de porco. Nós só temos um monte de carne de porco na China e até que tudo isso seja consumido, nós não vamos embarcar tanto quanto poderia esperar ”, disse ela.

Mudança secular

O Rabobank calcula que essas perdas não podem ser facilmente substituídas por outras proteínas (frango, pato, frutos do mar, carne bovina e carne de ovino), nem importações maiores poderão compensar totalmente a perda.

Dessa maneira, a consultoria acredita que isso resultará em uma lacuna de oferta líquida de quase 10 milhões de toneladas no total da oferta de proteína animal em 2019. De acordo com o relatório, espera-se que o suprimento de proteína global disponível seja redirecionado para a China em um esforço para satisfazer o crescente déficit de proteína.

A mudança no comércio, segundo os analistas, provavelmente irá criar uma queda inesperada nos mercados anteriormente servidos por esses fornecedores, criando uma volatilidade de mercado de curto prazo que acabará resultando em preços de proteína globais mais altos.

Uma mudança secular em direção ao baixo consumo de carne suína chinesa irá suportar o aumento da demanda por carne de frango, carne bovina, frutos do mar e proteínas alternativas que moldarão as tendências globais de produção.

Embora os Estados Unidos sejam um grande produtor e exportador de suínos, as atuais tarifas sobre as vendas  de carne suína norte-americana para a China estão restringindo o comércio atual.

Além disso, os EUA são também um grande produtor e exportador de aves, no entanto não podem exportar para o país asiático desde 2015 devido à proibição associada à gripe aviária. “Se a tensão comercial subjacente a essas barreiras não diminuir logo, isso também poderia complicar a resposta comercial global para a ASF”, diz o relatório.

Fonte: Revista Globo Rural

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